segunda-feira, julho 07, 2003

A Ilusão do Esplendor

Nos últimos dias, a comunicação social tem dado destaque à tentativa de separação de duas siamesas iranianas, que se está a realizar em Singapura num hospital privado. Temos ficado a par desta situação e a curiosidade das pessoas incide sobre o esperado sucesso da mesma. No entanto, alguns contornos deste acontecimento, que, à primeira vista, parece ser algo de completamente milagroso e espectacular ao nível da ciência médica, não estão completamente esclarecidos.
Chegam-nos relatos de que só agora, quando as gémeas estão quase na casa dos trinta anos, uma equipa médica resolveu arriscar nesta operação de cariz extremamente delicado (dizem os médicos!), além de que o hospital comportará com todas as despesas inerentes.
Não temos dúvidas de que, pelas imagens que nos chegam a casa, a realidade das duas gémeas impressiona e que os resultados da respectiva operação não devem ser "favas contadas". Contudo, através de uma entrevista concedida à SIC pelo Prof. Gentil Martins, prestigiado cirurgião português que já realizou operações desta envergadura, ficamos a saber que, porventura, para além do sucesso final que se espera, o objectivo da equipa médica e do respectivo hospital será conseguir propagandear os seus méritos e, assim, espalhar o nome deste hospital privado pelos vários cantos do mundo. Afinal, pelo que nos é dado a conhecer do caso pelo cirurgião português, a operação não é tão inédita como nos querem fazer crer, nem tão pouco eram necessários tantos médicos e enfermeiros para a realização da mesma. O próprio chega a dizer que a avançada idade das gémeas é favorável em variados procedimentos da operação.
Enfim, está-se perante um caso de aproveitamento mediático, no qual o hospital privado de Singapura apostou, no sentido de fazer deste caso uma espécie de telenovela, da qual as pessoas querem saber o seu desenrolar e ansiado sucesso. Esperamos que o tiro não lhes saia pela culatra. Até lá, em todos os noticiários vão-nos chegando notícias do desenvolvimento da operação, ao mesmo tempo que os directores do hospital onde a mesma é realizada vão esfregando as mãos de contente com tamanha publicidade mundial.
É caso para dizer, a espectacularidade deste caso só ilude quem quer.

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