quarta-feira, julho 16, 2003

Pura cuscuvilhice!

Ontem veio a público um estudo respeitante à tiragem dos jornais matutinos em Portugal e a principal conclusão que se retira do mesmo é a de que nos últimos tempos as publicações do género tablóide (com destaque para o 24 Horas e o Correio da Manhã) foram as que registaram um maior crescimento de vendas.
Num país onde, segundo os estudos mais recentes, apenas 83 em cada 1000 portugueses compram regularmente jornais diários é deveras preocupante que a maioria opte por gastar uns quantos cêntimos neste tipo de imprensa.
O que levará estas pessoas a preferirem comprar estas publicações populares, em detrimento de jornais minimamente sérios e credíveis como o Público ou o Diário de Notí­cias? Certamente que não será o preço dos mesmos, pois a diferença não é significativa. Logo, a resposta óbvia será o seu conteúdo! Ora, o que jornais como o 24 Horas e o Correio da Manhã nos trazem são, simplesmente, noti­cias e reportagens, sobretudo de âmbito corriqueiro e sensacionalista, do género "pai mata filho", "mais uma velhinha violada", "loja de telemóveis assaltada". Enfim , uma multiplicação de tí­tulos que apenas pode despertar o interesse de criaturas que devem sofrer de um qualquer vício de curiosidade da vida alheia. Mas, estes jornais trazem também reportagens da vida social do teórico jet set português: "Cinha almoça em Cascais", "Melão foi ao Lux", "Marisa Cruz na discoteca".
Conclui-se, deste modo, que o que parece suscitar o interesse dos leitores destas publicações é a dicotomia do estilo de vida das classes sociais mais baixas (sujeitas a crimes, roubos e violações), em contraponto com o das classes sociais mais altas (frequentadores de festas, jantares e viagens deslumbrantes).
Já sabíamos que o povo português padecia de uma iliteracia preocupante. Agora que que sofra da burrice de gastar dinheiro, em tempo de vacas magras, com publicações que apenas mostram a miséria de uns quantos, em contraste com as regalias de outros, é mais do que sí­ntoma de iliteracia. É, de facto, o cúmulo da cuscuvilhice! Dos jornais desportivos e das publicações cor-de-rosa, acho que nem valerá a pena falar!

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