quarta-feira, dezembro 03, 2003

A cidade "perseguida"...

O jornal Público e a Universidade Católica têm levado a efeito um ciclo de conferências que se debruçam sobre o tema "Olhares Cruzados sobre o Porto". Estas conferências são dinamizadas por conhecidas personalidades da política, do empresariado e da cultura da cidade do Porto.
Pelo que tenho lido na comunicação social sobre as intervenções dos dinamizadores destas conferências, todos andam à volta, não de olhares cruzados (como insinua o tema!), mas sim de um olhar de esguelha dirigido para sul, em particular para Lisboa. Das duas conferências já realizadas (faltam três) ressalta sempre a ideia de que o Porto não se consegue libertar da sua esquizofrénica mania da perseguição de que é alvo a partir do poder político instalado em Lisboa.
Por exemplo, o deputado socialista Santos Silva afirmou que o Porto deve abandonar "o complexo de ser o segundo da classe, o filho enjeitado, de ser tripeiro". Ora, este é precisamente o comportamento de pessoas como Pinto da Costa, Nuno Cardoso ou Luís Filipe Menezes, que continuamente se vêm queixar de que o Porto só não se desenvolve mais porque Lisboa não deixa. Também Pacheco Pereira defendeu "a necessidade de o Porto se afirmar como uma cidade cosmopolita", o que o conseguirá apenas se se deixar de comparar sistematicamente com Lisboa. Já na primeira conferência o cientista Sobrinho Simões tinha defendido a "teoria de que o Porto sofre, e muito, por estar sempre a ocupar o segundo lugar no pódio".
Ou seja, a ideia que se tem é que o Porto só não se desenvolve como gostaria porque enquanto tiver o "fantasma" de Lisboa a assombrá-lo não consegue atingir os seus objectivos. Não concordo nada com esta ideia, pois se tal fosse verdade também não seria possível ver cidades de média dimensão, como Braga ou Aveiro, crescerem, pois Lisboa ofuscaria qualquer tentativa de desenvolvimento de outras cidades que não a própria Lisboa. O que se passa no Porto é muito mais simples do que uma mera incapacidade de crescer porque Lisboa não deixa. A questão prende-se muito mais, por exemplo, com o facto de as cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia terem vivido durante muitos anos de costas voltadas uma para a outra, que impossibilitou um desenvolvimento sustentável e equilibrado destas duas cidades. Também o facto de algumas personalidades (como Nuno Cardoso em relação ao Porto - Capital Europeia da Cultura) terem prestado um mau serviço na dinamização de eventos, que poderiam ser importantes para o Porto não podem ser esquecidos no rol das culpas.
Enfim, penso que é hora de o Porto se deixar de se vitimizar. Sigam os exemplos de cidades como La Corunha ou Barcelona, ou a nível interno, de Aveiro ou Braga... Mexam-se...

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