domingo, dezembro 14, 2003

O Bispo e o aborto

A capa do Expresso deste sábado traz em grande destaque uma chamada à entrevista que o Bispo do Porto concede ao semanário com o título "Aborto não devia ser penalizado". Esta afirmação retirada do contexto leva a supor que o Bispo, pura e simplesmente, concorda com a liberalização do aborto. Ora, depois de ler a entrevista, parece-me que tal ideia não corresponde à realidade. Efectivamente, D. Armindo não coloca o aborto como o centro da questão, mas sim o conceito da famíla. À questão se concorda com a penalização das mulheres que praticam o aborto, o Bispo coloca-se ao lado dos que defendem a sua despenalização, mas vai mais além explicando que "a única solução para o problema é a criação de condições sociais para que as famílias possam criar os filhos".
Relativamente à questão da despenalização da prática do aborto tenho uma posição talvez demasiado rígida, mas assumida. De facto, penso que existem uma série de questões onde a responsabilidade individual deve ser valorizada, de forma a que cada um de nós, enquanto cidadãos providos de direitos e deveres, sejamos postos à prova. Coloco neste conjunto de situações, a prática do aborto e o consumo de drogas ilegais. E isto porquê? Simplesmente, porque, enquanto professor, penso que, como diz o povo, "é de pequenino que se torçe o pepino" e, logo, acho que o Estado, como percursor da sociedade deve dar o exemplo aos mais jovens de como estes se devem comportar em relação ao aborto ou à toxicodependência. Sendo assim, só com atitudes firmes e rigorosas é que se pode levar a que as gerações futuras tenham amplo respeito pela vida.
Não chega afirmar que cada um é dono do seu corpo e que pode fazer o que bem quiser com ele, desde abortar ou consumir drogas. O Estado não pode ser de contemplações com este tipo de visão ultra-liberal. O Estado tem de actuar, com vista a defender um conjunto de valores que são básicos quando se vive em sociedade: o primeiro desses valores é a vida.
E, não me venham dizer que nenhuma mulher pratica o aborto de livre vontade ou de cara alegre. É que, volto a frisar, a questão não é essa, nem esse é argumento para se ser a favor da despenalização do aborto. Digam-me, se se não penalizar algo que é ilegal e imoral, o que é que se pode fazer para levar as pessoas a não praticarem essa ilegalidade? Utilizando simples palavras!
Podem-me chamar conservador ou retrógrado. Não me importo, desde que me possam também chamar defensor da vida...

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