segunda-feira, fevereiro 09, 2004

À volta da educação sexual nas escolas...

Nas últimas semanas muito se tem discutido acerca da pertinência ou não da criação de uma nova disciplina obrigatória nas nossas escolas destinada a leccionar conteúdos sobre a educação dos jovens para a sexualidade. Há quem diga que esta nova disciplina deve ser de frequência obrigatória, abrangendo alunos do 9º e 10º anos de escolaridade e que deve contar para a avaliação dos alunos como qualquer outra disciplina do currículo.
Depois de ter discutido este assunto com alguns colegas e amigos e lido o que, ultimamente, se tem escrito sobre o referido assunto, resolvi tecer algumas considerações acerca de como a educação sexual deve ser dirigida aos adolescentes do nosso país.
Claro que há vários paradigmas acerca deste tema, havendo países (nomeadamente os nórdicos) que no seu currículo adoptaram a disciplina de Educação Sexual, enquanto que outros (como Portugal) tem desenvolvido uma estratégia de focar este tema nas escolas de forma transversal.
Primeiro demos uma vista de olhos ao que se faz, actualmente, nas nossas escolas no que diz respeito à educação sexual. Dou o exemplo do que nos últimos anos tenho presenciado nas escolas por onde tenho passado. Há diversas disciplinas, desde o 6º até ao 12º ano de escolaridade que abordam conteúdos sobre a sexualidade, como por exemplo a reprodução humana em Ciências Naturais do 6º ano ou a natalidade e a fecundidade em Geografia do 8º ano. Dou apenas alguns exemplos de como no nosso ensino esta matéria é abordada por diferentes disciplinas e de forma transversal em, praticamente, todos os anos de escolaridade. Por outro lado, com a introdução recente no nosso sistema curricular de uma nova área curricular, denominada Formação Cívica e obrigatória desde o 5º ano até ao 9º ano, as possibilidades de abordar o tema da sexualidade aumentaram significativamente. Há ainda a acrescentar que, felizmente, muitas associações fomentam colóquios nas nossas escolas destinadas a toda a comunidade educativa, abordando este tema de forma aberta e sem tábus.
Quero com isto dizer que não é por falta de abordagem do tema da sexualidade aos nossos alunos que estes não estão informados sobre como funciona o corpo humano em termos reprodutivos, como é que se previne a gravidez na adolescência ou como se podem evitar as doenças sexualmente transmissíveis. Pelo que tenha observado ao longo dos últimos anos, este tema é cada vez mais abordado de forma rigorosa e sem preconceitos, tanto por professores, como por formadores. O problema reside, quanto a mim, não na Escola, mas sim no facto deste assunto ser ainda um grande tábu na mente de muitos pais, que não abordam este tema com os seus filhos, esperando que a Escola trate de resolver essa lacuna familiar.
Deste modo, considero que não é a introdução de uma nova disciplina obrigatória no currículo vigente (e, neste momento, as disciplinas em alguns anos de escolaridade já perfazem quase a dezena e meia!) que possa modificar a postura dos nossos adolescentes face à sexualidade. Mais do que a Escola a promover condutas saudáveis ao nível da sexualidade (e isso já o faz!), deverão ser os pais a incutir esse tipo de comportamento lúcido e responsável nos seus filhos. A Escola e os professores já fazem muito a este nível, desde leccionar conteúdos nas suas aulas (que são avaliados em testes) e dinamizar debates nas aulas de Formação Cívica até promover colóquios e trabalhos diversos a este nível.
Muita gente tem a ideia que a solução para os problemas da nossa sociedade (toxicodependência, criminalidade, insegurança rodoviária, tabagismo e alcoolismo, entre muitos outros) reside apenas na Escola, julgando que a introdução de uma disciplina obrigatória resolve os problemas. Puro engano!!! A Escola já faz muito e a ela se deve que a situação actual não esteja pior. É bom que as pessoas se lembrem que, ao contrário dos países nórdicos, Portugal vive apenas há 30 anos em democracia e liberdade e que muitos dos pais de agora pertencem à geração que saiu da ditadura e que confundiu liberdade com libertinagem, não tendo, por isso desenvolvido uma adequada e equilibrada formação e educação nos seus filhos. Quantos pais têm vergonha e quase medo de falar com os seus filhos sobre os mais diferentes assuntos, fomentando a displicência e o "deixa andar"?
Mais do que educar os filhos, é urgente educar os pais... Se tiver que ser pela "força" que o seja. Por exemplo, retirando o abono familiar aos pais que, pura e simplesmente, não se interessam pela educação dos seus filhos e fazendo o contrário em relação aos que demonstram preocupação pela mesma... Esta é apenas uma ideia! Muitas outras são possíveis.

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