quarta-feira, julho 07, 2004

Educação sexual. Onde e como?

À medida que os tempos passam e a sexualidade se vai banalizando parece cada vez mais claro que urge começar a prestar aos adolescentes e jovens portugueses uma verdadeira educação sexual. De facto, duas circunstâncias actuais exigem que a informação sexual chegue aos jovens, já que parece ainda haver um grande tabu e vergonha por parte dos pais relativamente a este tema: por um lado, verifica-se uma iniciação sexual cada vez mais precoce, com uma grande percentagem de jovens a iniciarem-se sexualmente por volta dos 15 anos; por outro lado, o número de infectados pelo VIH são cada vez mais jovens, independentemente da sua orientação sexual.
Ora, a grande dúvida centra-se na forma como é que o Estado deve prestar um serviço de educação e formação sexual, sabendo-se que a família deveria ser o pilar principal dessa prioridade. A solução encontrada por muitos é, mais uma vez, a Escola, devendo-se, segundo muitos estudiosos na matéria, criar uma nova disciplina para leccionar exclusivamente temas de educação sexual. Poder-se-ia chamar Educação para a Saúde, Educação Sexual ou ter outro nome, mas, no essencial, passaria por orientar conteúdos relacionados com o corpo humano, os comportamentos sexuais, as doenças sexualmente transmissíveis, as formas de as prevenir, entre muitos outros temas.
A dúvida que se coloca é se a criação de uma nova disciplina será factor decisivo para que a educação sexual seja uma realidade ou se uma opção plurisdisciplinar seria uma melhor solução. Tendo em conta que, por exemplo, no 7º ano de escolaridade os jovens chegam a ter treze disciplinas (mais os clubes da floresta, da matemática e as aulas de apoio...), na sua maioria leccionadas por diferentes professores, acrescentar mais uma disciplina a este currículo já de si extenso seria uma sobrecarga insuportável para os alunos. Por isso, acho que todos os conteúdos a leccionar numa hipotética disciplina de Educação Sexual poderiam muito bem ser dados nas aulas de Ciências Naturais, de Geografia e de Formação Cívica, pelo que os professores destas disciplinas deveriam desenvolver um projecto de turma interdisciplinar, envolvendo estes conteúdos nas suas disciplinas. Aliás, muitos professores já o fazem nas suas aulas. Desta forma, poder-se-ia fazer uma abordagem contextualizada destes conteúdos a outros temas da actualidade, em vez de se "compartimentar" a Educação Sexual, descontextualizando-a das outras disciplinas.
Mas, o que faz mesmo falta em Portugal é uma completa reforma curricular do ensino básico, pois não faz sentido que os alunos tenham uma sobrecarga excessiva de disciplinas e de actividades extra-curriculares, como acontece actualmente, que condicionam o seu (in)sucesso escolar...