quarta-feira, agosto 04, 2004

A culpa é do facilitismo...

Os mais recentes números vindos a público sobre a reduzida taxa de conclusão do 12º ano de escolaridade (mais de metade dos alunos matriculados no último ano do ensino secundário em 2001 não o concluíram) só podem surpreender os mais distraídos ou menos conhecedores do actual estado do ensino em Portugal.
Nas duas últimas décadas, a Educação no nosso País tem vindo a ser alvo de sucessivas medidas legislativas "subservientes" que apenas têm conduzido a um estado de crescente facilitismo, com graves consequências ao nível da (não) aquisição de conhecimentos científicos dos alunos portugueses quando avaliados em exames nacionais. Ou seja, o que se passa é que no ensino básico o grau de exigência tem vindo a decrescer de tal forma que os alunos quando chegam ao ensino secundário começam a "tropeçar" na barreira do mínimo exigível. Deste modo, quando postos à prova em exames rigorosos de âmbito nacional, muitos dos alunos que foram sendo empurrados à "força" para prosseguirem os seus estudos, enfrentam a verdade nua e crua do seu real estado de ignorância.
Com um ensino básico que "condecora" os professores que dão boas notas, independentemente das mesmas corresponderem ao real valor dos alunos, e que desprestigia e cria problemas aos docentes que são exigentes para com os seus alunos, temos que muitos dos alunos que não demonstram capacidades para prosseguirem os seus estudos a partir do 9º ano de escolaridade embarcam numa "aventura" de irem para o ensino secundário (não obrigatório) sem as mínimas condições de concluírem o 12º ano de escolaridade.
Muito mais se poderia dizer sobre as reais causas deste problema educacional, desde a existência de professores sem a mínima vocação para estarem no ensino, ao excesso de disciplinas dos 2º e 3º ciclos do ensino básico, ao desprezo manifestado por muitos pais em relação à situação dos seus filhos na escola, até à forma desleixada como muitas escolas são geridas. Mas, continuo a pensar que mais vale termos poucos alunos no ensino geral, mas com reais capacidades de sucesso, do que termos um ensino facilitista, mas ilusório em termos das reais capacidades de muitos dos nossos jovens. Enquanto se pensar que todos os jovens portugueses têm de ser licenciados em alguma coisa, continuaremos a ter de enfrentar notícias que apenas nos envergonham face aos demais parceiros da UE...