terça-feira, novembro 30, 2004

Lá vamos para eleições. Sem medo...

Jorge Sampaio, depois de ter passado quatro meses numa situação de mal-estar e isolamento político, atacado pelos partidos de esquerda e desgastado pela generalidade da imprensa, resolveu dar o "braço" a torcer e convocar eleições antecipadas. O mais grave é que o poderia ter feito há quatro meses atrás ou aquando da apresentação do Orçamento de Estado. Não o fez nessas alturas... Decidiu-se agora por esta decisão depois de um Ministro sem qualquer força política (porventura seria dos menos conhecidos pela opinião pública) ter saído do Governo pelo próprio pé e zangado com o seu "amigo" Santana Lopes, imbuído num estado de raiva e ódio.
Jorge Sampaio sai desta situação de forma comprometida e dando a imagem de falta de coerência. A mais que provável ingovernabilidade dos próximos meses será, em primeira instância, responsabilidade sua. Claro que PS, PCP e BE batem as palmas, sonhando com a possibilidade de entrarem numa possível esfera governativa de esquerda.
Quanto ao PSD e PP, nos próximos dias terá que ser esclarecida a forma como cada partido se apresentará a eleições. Em caso de concorrerem separados (esperemos que sim), o PP terá a vida dificultada, enquanto o PSD se poderá "soltar" das amarras da coligação e tentar convencer os portugueses que só com uma política de centro-direito é que Portugal poderá continuar o rumo certo de abandono dos tempos difíceis que, recorde-se, começaram nos tempos da governação de Guterres.
Santana Lopes terá apenas que se confrontar com um problema (por sinal, bem grave): o partido está dividido, com alguns (poucos, mas ruidosos) ilustres militantes do PSD contra a liderança do próprio partido e a generalidade dos militantes de base unidos em torno do seu líder. Creio que o PSD saberá, em tempo de dificuldades, unir-se e enfrentar as próximas eleições confiante e sem medo...

sábado, novembro 27, 2004

O sonho de Cunhal...

Quando o ideal comunista não passa de mera utopia, a concretização de pequenos sonhos pode ser sinónimo de grandes conquistas. É com este estado de espírito que os comunistas assistem à passagem de testemunho entre Carvalhas e Jerónimo de Sousa. A partir de hoje, Álvaro Cunhal pode, finalmente, sentir-se como um homem medianamente feliz por um elemento do operariado fabril ter alcançado o lugar cimeiro do partido comunista mais ortodoxo da Europa.
Com a escolha "cirúrgica" de Jerónimo de Sousa, certamente orientada pelo próprio Cunhal, o PCP atinge o seu auge, o que sendo motivo de orgulho para o próprio partido, não deve deixar de preocupar os militantes e simpatizantes comunistas. É que, depois do sonho vem o acordar para a realidade com que o PCP se irá deparar. E esta será bem negra: o sonho transformar-se-á em pesadelo...
Claro que a maioria dos comunistas rejubilam de euforia por verem (formalmente) um elemento do proletariado na liderança do seu partido. Mas, o mais certo é que à medida que aumente a ortodoxia radical comunista, diminuirão os votos nas urnas e o PCP caminhará para o seu gradual definhamento. Socialistas e bloquistas devem estar contentes com a tomada de opção comunista, sendo que cada vez fica mais claro que só o desaparecimento de Álvaro Cunhal poderá "salvar" o PCP da morte certa.
Ironia dos tempos: aquele que fez do PCP, em tempos, um partido de razoável implantação em Portugal actua agora como principal responsável pela sua regressão...

quarta-feira, novembro 24, 2004

Quem tem medo que se cuide...

Com a entrevista de Santana Lopes concedida ontem à RTP1 ficou mais clarificada a posição do PSD em relação à postura do partido nas próximas eleições legislativas, isto, claro, se Sampaio não resolver contradizer-se a si mesmo e dissolver o Parlamento.
Todos aqueles que têm profetizado a depedência do PSD em relação ao PP viram as suas premonições viradas do avesso. O PSD não tem medo de ir sozinho às próximas eleições de 2006 e é mais do que lógico que assim seja. Quem parece ter medo é o PS que, como se sabe, só teria a ganhar com uma coligação pré-eleitoral.
Convém lembrar que a actual conjuntura de coligação teve, desde o seu início, uma base temporal de quatro anos e não é pelo facto de a mesma expirar no dia anterior às eleições que o Governo não tem condições para exercer o seu mandato até ao fim. Uma coisa é o Governo. Outra, bem diferente, é toda a lógica de combate político-partidário.
Claro que todos aqueles que anseiam pela destituição de Santana Lopes têm agora que apostar na procura de quezílias entre Santana e Portas, a fim de que a coligação começe a definhar. É o que faz pensar mais nos ódios pessoais de que na estabilidade e governabilidade do País.

domingo, novembro 21, 2004

O que fazer com a actual lei do aborto...

Cada vez que alguma mulher é chamada a tribunal para ser julgada pelo crime de aborto ilegal, os grupos cívicos que são a favor e os que são contra a despenalização do aborto "digladiam-se" entre si à procura do maior protagonismo possível. Convenhamos que neste combate sem nexo os grupos favoráveis à despenalização e/ou liberalização do aborto têm tido maior visibilidade, muito à custa da realização de marchas e manifestações apoiadas pelos partidos de esquerda.
Agora surge a notícia (não sei se verdadeira ou não) de que o PSD está a ponderar apoiar a ideia do PCP de suspender todas as investigações e julgamentos pela interrupção ilegal da gravidez. Ora, neste particular tenho que estar de acordo com o líder do PP, Paulo Portas: ou as leis existem para se cumprir, ou se não servem para nada há que mandá-las para o lixo... Agora, suspender uma lei em vigor não me parece ter sentido algum, nem tão pouco ser constitucional.
Quanto à lei em si, já aqui exprimi a minha opinião sobre a mesma: não sendo a ideal, poder-se-á melhorar, tendo sempre em linha de conta que o objectivo da mesma é defender a vida de seres humanos indefesos. Mais do que condenar uma mulher a pena efectiva de prisão (e convém não esquecer que não conheço nenhum caso onde tal tenha ocorrido, embora, em alguns determinados casos algumas mulheres o merecessem) a lei terá que ser vista como uma espécie de indicação à sociedade de que cometer um aborto não pode ser um acto alvo de branqueamento. E, convém lembrar: há casos e casos... Tenho para mim a opinião clara de que a lei deve incorporar uma pena de índole social para a maior parte dos casos (mas, de pena de prisão para os mais gravosos e obscenos, porque os há) que evidencie a ideia de que cometer um aborto sem causa aceitável é um acto que não pode passar ao lado dos valores e princípios de uma sociedade que se quer democrática e desenvolvida.
Mas, mais do que suspender a actual lei, importa não esquecer que qualquer alteração à actual lei do aborto só se pode efectivar com a realização de um novo referendo.

terça-feira, novembro 16, 2004

Irá acontecer a Santana o mesmo que a Bush?

Este fim de semana, as bases do PSD puderam, finalmente, desabafar e deitar cá para fora o que lhes vai na alma. Muito se falou da forma de estar do PSD (ou da falta dela) na coligação e da pertinência de haver (ou não) uma coligação pré-eleitoral nas próximas eleições legislativas de 2006, isto, caso não sejam antecipadas por uma qualquer razão inesperada.
Penso que Santana está "refém" dos militantes de base do partido e, por muito que tente levar os sociais-democratas a colocar a hipótese de o PSD encabeçar uma plataforma de partidos de centro-direita (mas, quais para além do PSD e PP?) e de organizações sociais e económicas de cariz privado, parece-me que o rumo a seguir será o de tudo fazer para evitar o esticar da corda da coligação e colocar os interesses do País à frente dos de índole partidária.
Esta coligação tem, para bem da necessária estabilidade política, económica e social do País, que sobreviver a todos os ataques externos que se lhe coloquem, pelo que apenas no início de 2006 se deve decidir sobre o que fazer com esta coligação, que, não nos esqueçamos, foi formada após as eleições de 2002.
Sou da opinião que PSD e PP devem concorrer sozinhos às próximas legislativas e, só depois do apuramento dos resultados finais se deve colocar a hipótese de se retomar a coligação que, aquando da sua formação original, teve como limite temporal os quatro anos da legislatura.
Entretanto, cada vez mais me convenço que Santana poderá muito bem ter o mesmo futuro que Bush. Apesar da grande generalidade dos comentadores políticos e dos editoriais da imprensa portuguesa serem hostis ao actual chefe do Governo (tal como aconteceu com Bush), não me admiro nada que Santana consiga, contra tudo e todos, vencer as próximas eleições legislativas. As bases do PSD, certamente, estarão com ele, se ele souber estar com o partido...

quinta-feira, novembro 11, 2004

Uma oportunidade...

Arafat morreu. Abre-se uma nova oportunidade para o necessário e premente acordo político entre Israel e a Palestina. Já aqui referi que é costume vermos personalidades políticas elogiarem qualquer líder político que desapareça. Desta vez, não se fugiu à regra: ainda não vi um único líder de um País ocidental criticar a actuação de Arafat, enquanto "travão" para a paz no Médio Oriente. Todos o gabam enquanto pessoa, quase o comparando a um mártir... Qualquer dia, passar-se-á o mesmo com Fidel Castro!
Sejamos directos. Penso que há males que vêm por bem. E, não querendo dar a ideia que fico feliz pela morte de Arafat, acredito que será difícil não evoluirmos para uma situação política que não passe pela paz nesta problemática região do mundo. A "bola" está, mais uma vez, do lado dos palestinianos e há que ter a esperança que os novos líderes da OLP tenham, finalmente, a capacidade de pôr ordem e disciplina na frente palestiniana. Israel, como sempre, anseia pela segurança interna e sabe que só com um acordo com os seus vizinhos da Palestina a poderá alcançar.
Quanto a Arafat, a História tratará de o descrever como realmente se portou em vida: um líder agarrado ao poder e com jeito para a vitimização...

sábado, novembro 06, 2004

Presunção e água benta...

Pois é! Afinal, todos aqueles que se julgavam donos da verdade enganaram-se e acabou por ser Bush a ganhar as eleições presidenciais dos EUA. Desta vez, todos aqueles que apelaram à vitória de Kerry e, quase fizeram campanha eleitoral aqui na blogosfera não se podem refugiar na desculpa do método eleitoral maioritário americano (que muitos consideram injusto), nem tão pouco na falta de informação do eleitorado mais jovem (a esperança dos democratas). A razão que desta vez parecem ter encontrado para a inequívoca vitória de Bush é, imagine-se, a suposta estupidez do povo americano. Com a falta de lucidez evidenciada neste tipo de argumentos de mau perdedor não vale a pena perder tempo. Resta-me apenas paciência para dizer que a esquerda europeia que se julga intelectualmente superior só tem, com este tipo de discurso, provocado o crescente distanciamento visível entre a superpotência EUA e uma Europa cheia de contradições e divisões...
Um último comentário para o que muita gente tem dito sobre Arafat. Quando uma personalidade importante morre é costume vermos a classe política vir com conversa elogiosa sobre a dita pessoa. No momento em que escrevo ainda não se sabe se Arafat morreu ou não e já muitos políticos portugueses vieram falar do líder palestiniano como se homem fosse quase um "santo" ou mártir. Até Cavaco Silva veio dizer que Arafat tudo tentou para promover a paz no Médio Oriente. Detesto este tipo de "água benta"... Lá por Arafat ter recebido um Prémio Nobel da Paz (mais como incentivo à paz naquela região do mundo do que como recompensa pelo trabalho feito), não nos esqueçamos que Arafat durante muitas décadas incentivou a táctica terrorista apenas para manter o poder, "fugindo", por diversas vezes, à assinatura de tratados de paz com Israel. Esperemos que o seu sucessor pense menos em si e mais no povo que representa...

segunda-feira, novembro 01, 2004

As primeiras eleições planetárias...

Aí estão, finalmente, as primeiras eleições que, apesar de serem nacionais, vão "mexer" com todo o mundo. Efectivamente, esta é a primeira vez que umas eleições americanas têm contornos globais e criam sentimentos de apoio e repulsa por cada uma das candidaturas presidenciais.
Desde orgãos de comunicação social até partidos e organizações não governamentais, passando, obviamente, pelo cidadão comum, não conheço ninguém que não tenha a sua opinião formada sobre o candidato que prefere para tomar conta dos destinos da única superpotência mundial. Estas são, de facto, as primeiras eleições planetárias da história humana e delas sairá um conjunto de indicações pertinentes sobre o que poderemos esperar dos EUA na luta contra o terrorismo, a principal preocupação da opinião pública mundial.
Já aqui manifestei várias vezes o meu apoio a Bush, apesar de não apreciar a ingenuidade (alguns chamar-lhe-ão burrice) tantas vezes demonstrada nas suas aparições televisivas. No entanto, parece-me que Bush encarna a imagem do típico cidadão norte-americano que sabe o que quer e para onde vai: enfrentar o inimigo terrorista e difundir a democracia pelo mundo muçulmano. Claro que muitos prefeririam que os EUA, enquanto poderio político, económico e militar estivesse mudo e calado. Ora, é por essa razão que prefiro o enérgico Bush ao amorfo Kerry. Mas, quem decide é o povo americano. Para bem do mundo, esperemos que decida bem...