domingo, junho 26, 2005

Stress ou desânimo???

Num recente estudo sobre o stress na docência, da autoria de Alexandra Marques Pinto, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade Clássica de Lisboa, conclui-se que os professores estão entre os trabalhadores que maiores níveis de stress apresentam. Segundo a investigadora, os docentes são "profissionais sujeitos a elevados níveis de exigência face a recursos insuficientes e poucos apoios por parte da família ou sociedade".
Ora, mais do que o stress, o que me preocupa é a falta de qualidade do ensino, que se agrava à medida que os anos passam e as equipas ministeriais da Educação se vão revezando, sem meter mãos no que, de facto, interessa...Vem esta conversa a propósito da "terrível" semana que se aproxima em termos de reuniões de avaliação. Depois de mais um ano lectivo a esforçar-me para que mais de 100 jovens dos 7º e 8º anos ficassem a conhecer melhor o seu País e o mundo que os rodeia, é tempo de avaliações finais... Ora, esta é das tarefas mais ingratas que um professor pode ter, nomeadamente quando o actual sistema de educação parece favorecer os piores alunos e nivelar a exigência escolar por baixo. A verdade é que, ao contrário do que acontecia há vinte ou trinta anos atrás, toda a panóplia legislativa em termos de avaliação dos alunos tende a quase "proibir" a reprovação dos alunos que, pelas mais diversas razões (das mais compreensíveis às menos aceitáveis) não demonstraram ao longo de quase dez meses de aulas ter capacidade para singrar num sistema educativo que deveria primar pela exigência, rigor e responsabilização.
Custa-me, enquanto director de turma, ter que justificar no papel o facto de um aluno não progredir de ano de escolaridade por manifesta falta de empenho deste, quando são os próprios pais que, por ausência de acompanhamento do mesmo, nada fazem para que o seu filho se aplique nos estudos ou, pelo menos, frequente as aulas quando ainda está em idade de escolaridade obrigatória... Ainda por cima, eu e demais professores do dito aluno estamos sujeitos a ter que reunir novamente em Conselho de Turma para que "sua excelência" transite de ano apenas porque, segundo a lei, se deve fazer tudo (até quase passar um atestado de incompetência aos docentes!) para que um aluno não apresente duas ou mais retenções no mesmo ciclo de ensino.
Para quê tanta protecção aos "maus" alunos? Pois, muito simples! É que desta forma as taxas do sucesso escolar aumentam, mesmo que à custa de ausência de qualidade do verdadeiro aproveitamento escolar. Assim, os nossos políticos já não se envergonharão quando compararem os níveis de sucesso escolar de Portugal no seio da UE. Esquecem-se é que a iliteracia continuará a ser uma "praga" neste País, com sérias consequências ao nível da falta de competitividade da mão-de-obra portuguesa quando comparada com a dos restantes países da UE.
Mais do que o stress provocado pela crescente indisciplina que grassa nas escolas portuguesas, pela ansiedade dos resultados das colocações dos professores, pelo castigo de deixar a família para dar aulas a mais de 100 Kms de casa, é o mal-estar provocado por esta "protecção legislativa" que é concedida aos maus alunos que me incomoda enquando professor...
Nem quero pensar o que será da Educação em Portugal quando, com tanto facilitismo empacotado em leis, decretos-lei, artigos, circulares e despachos-normativos, tivermos um ensino obrigatório até aos doze anos de escolaridade!!!

1 comentário:

Anónimo disse...

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