sábado, julho 30, 2005

Que tipo de universidades queremos?

Há uns dias atrás foi dado a conhecer pelo jornal Público (qual haveria de ser!) alguns dos resultados de um estudo realizado por um docente universitário sobre a investigação científica que é feita nas universidades portuguesas.
Primeiro que tudo, dois breves apontamentos. Por um lado, há que elogiar o facto de, mais uma vez, ser o jornal Público a informar os portugueses deste tipo de resultados, uma vez que parece que vivemos num tempo em que se fala muito de estudos, mas vê-los é que nada... Olhe-se para o caso dos ditos estudos sobre o TGV e o aeroporto da OTA de que o Governo tanto fala, mas que ninguém sabe onde é que páram!
Em segundo lugar, há que reconhecer a pertinência deste tipo de análises reveladas pelo Público que servem para reflectir um pouco sobre o que queremos, realmente, do ensino superior público português.
Relativamente ao referido estudo, que dá conta do número de artigos publicados em revistas científicas internacionais, a Universidade de Aveiro aparece destacada como aquela onde a produção e investigação científicas são mais notórias, fruto do resultado obtido de 1,5 artigos publicados, anualmente, por cada docente de carreira. Seguem-se as Universidades do Algarve, do Porto e Técnica de Lisboa com 0,8 artigos publicados por docente. As restantes universidades aparecem com valores inferiores a 0,7 artigos.
Ora, apesar deste estudo ter a mais-valia de alertar as entidades competentes para este assunto e dar conta do reduzido peso que a investigação ainda tem no nosso ensino superior, penso que é um erro reduzir a investigação científica a um mera contabilização de artigos publicados, ignorando outros factores importantes nessa análise, tais como a cooperação universidade-empresa e a realização de estudos a nível local e regional, entre outros. Claro que a publicação de artigos em revistas internacionais é um elemento importante e, nesse aspecto, há que elogiar a Universidade de Aveiro, mas não deve ser esquecida toda a componente prática que uma instituição de ensino superior revela quando apoia as empresas da sua região, fomenta a investigação ligada à indústria, coopera com as autarquias na consolidação de projectos locais, promove a incubação de empresas, etc.
Esperemos que os resultados deste estudo não fiquem na gaveta e sirvam, pelo menos, para aumentar o rigor com que as universidades devem ser avaliadas, por forma a termos universidades não só voltadas para o ensino, mas, cada vez mais, com ligações à investigação e ao desenvolvimento regional.

terça-feira, julho 26, 2005

Nuclear??? Com tanto sol e vento...

Há umas semanas atrás um qualquer empresário deste País que se deve julgar um "expert" em matéria de energia afirmou que a única saída de Portugal para superar a nossa dependência energética face ao exterior seria o de promover a construção de, pelo menos, uma central nuclear. Dizia esse senhor que as vantagens superavam em muito os possíveis riscos inerentes à existência de uma central nuclear, embora, segundo o próprio, esta opção fosse completamente segura e imune a qualquer tipo de acidente.
A conclusão que podemos retirar é que ainda há quem não se tivesse apercebido que Portugal é um dos países com mais potencialidades ao nível das energias solar e eólica, para além da própria energia das ondas e marés e da proveniente das barragens.
Se é uma evidência mais do que clara que devemos investir neste tipo de energias renováveis (apesar do esforço deste Governo, a aposta deveria e poderia ser ainda maior), também se sabe que um dos graves problemas do nosso País prende-se com a dependência total do exterior face ao petróleo, um dos factores responsáveis pelo crónico défice comercial de Portugal. A solução para este problema, enquanto os automóveis e camiões não funcionarem a hidrogénio (talvez daqui a 50 anos...) passaria pelo nosso País conseguir ter influência junto de algumas das nossas antigas colónias que possuem este recurso energético, casos de Timor-Leste ou de Angola. Mas nada! Também neste aspecto deixámo-nos ficar para trás e continuamos sem conseguir termos influência logística junto dos nossos parceiros da CPLP...
Ironicamente, por cá, prevê-se que o investimento em energia eólica, na sua maioria de origem privada, seja de 900 milhões de Euros, menos de metade do que o Governo se prepara para esbanjar em dois projectos alucinantes (o TGV e o novo aeroporto da Ota) que não trazem qualquer contrapartida benéfica a Portugal e, mais, apenas irão beneficiar a economia espanhola...

domingo, julho 24, 2005

Reféns da Ota e do TGV...

Depois de dez anos de Governos de Cavaco Silva dominados pela construção de rodovias, de escolas, de hospitais, de tribunais, enfim, de todo um conjunto de infra-estruturas básicas de que Portugal carecia, seguiram-se seis anos de Guterres em que o que parece ter ficado pouco mais foi que o "investimento" em estádios de futebol e numa novidade chamada "rendimento mínimo garantido" que, na verdade, se transformou numa espécie de subsídio à inactividade e à preguiça. Os Governos seguintes de coligação PSD-PP trataram de se preocupar apenas com a reforma da legislação laboral e com a redução do défice orçamental deixado pelos seus antecessores, numa altura em que o incumprimento das regras comunitárias a este respeito pressupunha a perda de fundos comunitários...
Chegados ao novo Governo PS, chefiado por Sócrates, o que temos? Pois bem, a velha máxima socialista de piscar o olho aos lobbies instalados, neste momento dominados pelas grandes empresas de construção civil que vêem as próximas eleições autárquicas como uma possibilidade de financiarem muitos dos autarcas deste País e, assim, receberem as benesses do Executivo socialista. Deste modo, temos o abandono do conceito gasto do "choque tecnológico" com que Sócrates enganou o eleitorado e passamos à estratégia dos investimentos no betão e no ferro, ou seja, num novo aeroporto a 50 Kms de Lisboa e numa estrutura ferroviária do tipo TGV que apenas servirá para "meia dúzia de executivos" irem a Madrid tratar de negócios. Isto num País que nem sequer tem uma condigna rede ferroviária nacional que ligue, através de Intercidades, as principais urbes de Portugal continental. Quanto ao aeroporto da Ota, será que Sócrates pensa que irá convencer os turistas estrangeiros a aterrarem na Ota quando pretenderem passar férias em Espanha? Está muito enganado...
Importante e urgente seria, efectivamente, investir no capital humano, ou seja, qualificar de forma séria e rigorosa (e não como tem acontecido com muitos cursos de formação que por aí abundam para alguns ganharem muito sem fazerem nada...) a nossa mão-de-obra, ao mesmo tempo que se deveria apostar em dois ou três clusters específicos da nossa estrutura económica (têxteis e vestuário, moldes e vidros), com vista à exportação e, assim, potenciar a entrada de mais valias em Portugal.
Enquanto insistirmos em gastar recursos que não têm retorno e não investirmos a sério na educação, formação e inovação, continuaremos a ver passar-nos à frente os (poucos que restam) nossos parceiros comunitários...

quinta-feira, julho 21, 2005

Se não fosse um assunto tão sério daria vontade de rir...

O Governo de Sócrates teve a sua primeira grande baixa. E, logo, do Ministro que serviu de "porta estandarte" aquando da formação deste Executivo. Ou será que já se esqueceram que Campos e Cunha foi, sem dúvida, a grande surpresa pela positiva de Sócrates, com o intuito de fazer lançar para a opinião pública a ideia que este seria um Governo diferente dos anteriores, com mais personalidades independentes e técnicamente mais habilitadas...
Pois bem, aquele que foi apresentado há quatro meses como um rigoroso e conceituado catedrático de Economia que iria colocar as contas públicas na ordem, desde cedo se começou a revelar como alguém que pensava pela sua cabeça e que não estava no Governo para fazer fretes ao PS. A corda esticou e o Ministro foi obrigado a pedir a sua demissão, vindo agora com a justificação esfarrapada do cansaço e das questões familiares. Ora, então ainda há cinco dias, Campos e Cunha concedeu uma entrevista ao Público, assumindo compromissos para o próximo ano e agora já está cansado. Acredite quem quiser...
Daqui a uns meses lá virá Campos e Cunha contar a verdade sobre este assunto, dando conta dos "podres" existentes no interior deste Governo. A continuar assim, o próximo a seguir-lhe os passos será Freitas do Amaral, quando este constatar que o PS não o irá apoiar para se candidatar às Presidências.
Entretanto, a tralha guterrista volta ao Governo. Desta feita, alguém que durante o último Governo de Guterres também teve responsabilidades no descalabro em que foram deixadas as contas públicas... Cada vez mais se nota que Sócrates está a ser completamente "trucidado" pelo aparelho socialista: agora voltamos à teoria do betão, com os mais que "gastos" TGV e OTA...

segunda-feira, julho 11, 2005

Perdoar dívidas não é solução! E a democracia?

Este último fim-se-semana fica marcado por mais uma barbaridade cometida por uma cambada de estupores que nutrem um ódio implacável contra os valores democráticos e que se servem de justificações estéreis em redor da defesa do Alcorão para matarem inocentes e incendiarem o medo pelos países mais ricos do mundo. Pena é que aqueles que se unem em torno de organizações anti-globalização não percebam que as suas manifestações de pressão contra os EUA só dão mais força a estes terroristas canibalescos...
Ironicamente, ou nem tanto, realizou-se na Escócia mais uma reunião dos oito países mais poderosos do mundo, cujas decisões finais resultaram num aumento da ajuda financeira a África em mais de 50 mil milhões de euros e na anulação da dívida externa dos países africanos mais pobres.
Pois bem, será que alguém já se deu conta que os países africanos mais endividados são a Nigéria, o Egipto, a Argélia e Marrocos, que em conjunto têm uma dívida de mais de 100 mil milhões de dólares? E o que dizer destes países? São governados por gente séria? Elogiam a democracia e a paz? Não têm recursos naturais que possam trazer benefícios às suas populações? Apostam na educação e no desenvolvimento? Enfim, bastará um pouco de cultura geral para responder de forma correcta a estas questões...
Para quando uma política séria que relacione o desenvolvimento africano com dois postulados: a democracia e a paz? É que, por mais que se perdoem dívidas e se injecte dinheiro nestes países, (des)governados por gente corrupta que se instala no poder à custa do desvio das riquezas dos seus povos e do fomento da guerra, não se conseguirá alcançar o desenvolvimento sério de um continente onde a democracia está a milhas de distância de ser concretizada.
Quanto a concertos de grupos musicais que dizem querer fomentar a paz em África, apenas direi que na passada semana as vendas da indústria discográfica aumentaram a olhos vistos...

quinta-feira, julho 07, 2005

Uma Espanha muito estranha...

Há poucos dias foi aprovada, no nosso país vizinho, uma lei que concede aos homossexuais a possibilidade de contraírem matrimónio e adoptarem crianças. Por cá, apesar de toda a pressão exercida pelos grupos que se auto-intitulam defensores dos direitos dos gays, ainda não se vislumbram quaisquer sintomas de que nos deixemos afectar por "modas" que contrariam o bom senso e o respeito pelos valores civilizacionais. Por cá, a maioria do povo português ainda preza o direito à vida, o respeito pela família e a procriação e a defesa dos mais indefesos...
O que mais me surpreendeu nesta "hecatombe" espanhola foi a forma pouco consensual e deveras arrogante como o Governo de Zapatero avançou para uma medida que "destrói" um valor que dura há centenas de anos, banalizando por completo o conceito de família. Zapatero esquece-se que, tal como agora, se socorreu de uma maioria parlamentar para mudar uma lei fundamental, também um próximo Governo do centro-direita que detenha maioria parlamentar facilmente fará voltar esta questão ao seu ponto inicial e do qual nunca deveria ter saído. É que Zapatero nem sequer colocou a hipótese de uma consulta ao povo espanhol, por meio de referendo. Esta atitude do Governo espanhol roça a teimosia, ignorando por completo, a opinião da Igreja Católica e de milhões de espanhóis que deveriam ter sido chamados a pronunciar-se sobre um tema que tem que ver com a defesa da família e os direitos de crianças órfãs, às quais devem ser concedidas um pai e uma mãe.
Alguns amigos meus, meio a brincar, meio a sério, costumavam dizer-me que, se fossemos espanhóis, viveríamos muito melhor. Agora, já colocam um ponto de interrogação nessa possibilidade. É que, mais vale viver num Portugal um pouco menos rico, mas de cara lavada e com orgulho na defesa dos valores da família e das crianças desprotegidas, do que numa Espanha, que na ânsia de "copiar" alguns países menos conservadores, se deixa levar pelo imediatismo de grupos que só pensam nos seus direitos, esquecendo-se que, numa sociedade, contam todos...