segunda-feira, outubro 31, 2005

1 de Novembro: um feriado discutível...

Em muitos países do mundo, no dia 1 de Novembro celebra-se o "Dia de Todos os Santos". Este é um feriado de origem católica, embora seja "aproveitado" pela generalidade da população, quer se seja católico ou não para fazer uma folgazinha ao trabalho...
Este é daqueles dias, como a terça-feira de Carnaval e outros, em que não consigo compreender qual a razão que leva o Estado a continuar a institui-lo como feriado nacional, quando aposto que a maior parte da população não o celebra, nem sequer sabe qual o seu significado. Aliás, convém lembrar para os mais distraídos que no dia 1 de Novembro é feriado para que, segundo a Igreja Católica, se "agradeça a existência daquelas pessoas que alcançaram a perfeita introspecção das suas almas Divinas e se ore para que no devido tempo da nossa perfeição, nos possamos juntar aos líderes da Luz"! Será que na prática é isto que acontece? Não me parece...
Depois, não nos podemos esquecer que a maioria da população nem sequer quer saber da Festa de Todos os Santos, nem tão pouco do Dia dos Fiéis Defuntos. Aliás, muitos aproveitam o feriado para passear e, este ano, muitos até o reforçam como fim-de-semana alargado, fazendo "ponte" na segunda-feira...
Eu próprio, que sou católico, não preciso deste feriado para homenagear os meus familiares que já partiram. Todos os dias me lembro dos meus avós e não preciso de me deslocar ao cemitério do dia 1 ou 2 de Novembro para me recordar deles. Aliás, considero absurdo que os cemitérios se encham de gente nestes dias, quando o domingo é já por si um dia de celebração festiva para os católicos...
Por outro lado, a haver feriado, pelo menos poder-se-ia "deslocá-lo" para um dia mais junto ao fim-de-semana para, assim evitar o que, mais uma vez, aconteceu: o País a meio gás durante um dia e parado no seguinte...

terça-feira, outubro 25, 2005

Diferenças mais que óbvias

Como se costuma dizer, os dados estão lançados rumo às eleições para a Presidência da República Portuguesa. Havendo cinco candidaturas assumidas, interessa realçar as diferenças que existem entre os respectivos candidatos e perceber qual o tipo de motivação que os levou a avançar rumo à conquista do lugar de Chefe de Estado.
De Louçã e Jerónimo de Sousa pouco há a dizer. Ambos dão corpo a candidaturas de âmbito partidário, com o objectivo claro de aproveitarem os tempos de antena disponíveis e dispararem "cobras e lagartos" cheios de ódio contra a direita portuguesa.
De Mário Soares e Manuel Alegre, poder-se-á dizer que as suas motivações são diversas, embora envoltas num mesmo propósito prioritário: enfrentar Cavaco Silva numa segunda volta. Soares pretende ter o seu derradeiro e único "frente-a-frente" da sua vida contra Cavaco Silva, já que em nenhuma eleição anterior ambos se enfrentaram. Soares, mais do que nunca, deseja afrontar Cavaco Silva e "atirar-lhe à cara" tudo o que lhe vai na alma, aproveitando os debates televisivos e o interesse da opinião pública. Mais do que nunca, Soares quer fazer a "vida negra" a Cavaco Silva, ao mesmo tempo que sonha com a hipótese de poder vir a receber as luzes dos holofotes durante mais cinco anos. É que Soares é parecido com Manuel Maria Carrilho num aspecto: não consegue viver sem as luzes da ribalta.
Já Manuel Alegre pretende capitalizar o muito do mal-estar que predomina em torno deste Governo, pelo que aproveita o facto de muita da esquerda portuguesa não se rever em Soares para tentar vir a ocupar o cargo de Presidente da República. Por outro lado, e tendo em conta a condição do voto útil, Alegre tem a esperança que numa segunda volta destas eleições possa dar corpo a muito do ressentimento que parte do eleitorado português tem para com Cavaco Silva.
E, de Cavaco? O que poderemos dizer? Muito simples. Depois de dez anos onde a sobriedade e o distanciamento a nível partidário foram provas concretas da capacidade de independência de Cavaco Silva, é chegada a hora de Portugal poder ter como seu Chefe de Estado uma personalidade que dê vida própria a este importante cargo. Não chega termos um Presidente da República que se limita a fazer discursos de incentivo ao povo e cheios de moralidade, ao mesmo tempo que passa metade do seu tempo em cerimónias protocolares e viagens de representação. Este é o cargo e o momento apropriados para Cavaco Silva. É Portugal quem fica a ganhar...

quarta-feira, outubro 19, 2005

Pois é! A resposta está na educação...

Quem diria que numa conferência com dois dos mais reputados pensadores da economia mundial se tenha chegado à conclusão (como se fosse uma grande novidade!) de que a educação é a resposta certa para ultrapassar a crise por que passa Portugal. Pois é! Numa recente iniciativa de um grupo bancário, vieram a Portugal, dois Prémios Nobel da Economia falar sobre a actual situação da economia portuguesa e ambos referiram-se à aposta na educação como um ponto fulcral para que o nosso País possa, de uma vez por todas, seguir o rumo certo no sentido de conseguir fazer face a outras economias mundiais (nomeadamente a China e dos países do Leste europeu) e, assim, aproximar-se das principais potências europeias...
No entanto, verificamos que, apesar das nossas despesas na área da educação serem muito próximas (em percentagem do PIB) das realizadas por países como a Finlândia ou a Alemanha, o facto é que o retorno em termos de sucesso escolar em Portugal é deveras confrangedor. Daqui se conclui que, mais do que aumentar a despesa pública na educação, interessa que saibamos racionalizar os gastos. É que os gastos supérfluos na educação devem ser, actualmente, mais que muitos...
Por outro lado, algumas das medidas que estão a ser implementadas por este Governo são de proveito muito duvidoso. "Enfiar" os alunos na escola durante todo o dia, com mais de dez disciplinas, sem recursos convenientes e exigindo que estes "metam" na cabeça fórmulas, conhecimentos teóricos e outras matérias de pertinência duvidosa, sem perceber que o sucesso escolar passa em grande medida pela forma como se ensina e pelos recursos afectos a este processo, é meio caminho andado para o insucesso escolar.
Depois, não nos podemos esquecer do ensino superior existente no nosso País e da forma como uma boa parte do ensino universitário e politécnico português não passa de um mero saber enciclopédico, desprezando a investigação e a ligação à vida real. Gastar mais dinheiro é importante, mas não chega. É importante exigir mais do Ensino Superior Público Português. Isto já para não falar da reduzida exigência que existe em algumas instituições de ensino superior públicas e, sobretudo privadas, em Portugal.
Mas, continuo a pensar que enquanto não houver uma nova reforma do ensino básico e secundário em Portugal continuaremos a destacar-nos pela negativa ao nível dos rankings europeus da educação.

domingo, outubro 16, 2005

Ai Portugal, Portugal...

E, isto porquê? Apenas porque vivemos num País em que meio "mundo" tenta enganar o outro meio "mundo". Pego no jornal e leio a letras garrafais: "Laboratórios farmacêuticos condenados por cartelização". Miséria! É uma vergonha termos um País onde empresas que fabricam medicamentos essenciais a milhares de portugueses se organizam e combinam preços para aumentarem os seus lucros, já de si enormes, à custa dos contribuintes e dos doentes. E qual é o resultado da condenação? Uma multa pecuniária, sem haver lugar a um processo-crime...
Mas, há mais! No país da UE onde há mais desigualdade entre ricos e pobres, pode-se ler no jornal que, em menos de um ano, já quase cem mil pessoas desempregadas recusaram um trabalho oferecido pelos Centros de Emprego do IEFP. Mas, afinal para onde vamos? Damo-nos ao "luxo" de termos desempregados a rejeitarem empregos. E, depois, ainda há quem culpe os imigrantes da crise que grassa pelo País. Mas, claro, crise só para alguns...
O mínimo que se pode dizer é que não podemos deixar de nos sentir indignados e inconformados quando notícias deste género se multiplicam a olhos vistos, num País onde alguns dos valores básicos pelos quais se deve reger uma sociedade equilibrada e decente começam a definhar...

quarta-feira, outubro 12, 2005

Era uma vez...

Era uma vez um jovem que, desde cedo, vendo-se confrontado com a ausência de um pai (que pouco tempo dava à família e tinha nos seus "amigos" a prioridade do seu tempo) teve no seu avô a imagem daquele "velho", que com a sua sabedoria e argúcia, fazia brilhar de orgulho os olhos do pequeno jovem.
Assim, desde muito novo que o rapaz começou a acompanhar o seu avô, em vivências e aventuras que a memória guardará para sempre. Fosse em tertúlias de café que o avô tinha com os da sua idade e para as quais fazia questão de levar o neto ávido de curiosidade; fosse nos passeios que ambos faziam pelos caminhos escondidos da Serra da Estrela, munidos apenas de um saco de maçãs e de uma garrafa de água; fosse nas esplanadas das praias da Figueira da Foz e de S. Pedro de Moel, no tempo das férias de Verão, nas quais as mulheres iam para o areal tomar banhos de sol e eles os dois ficavam numa qualquer esplanada virada para o mar, com o avô a contar histórias com mais de meio século; fosse na velha oficina de encadernação em que o avô dava largas à sua vocação de artista (encadernador de livros), com o jovem rapaz a aprender com o velho mestre avô a arte de bem encadernar; enfim, muitas foram as horas nas quais avô e neto passaram juntos belos e inesquecíveis momentos...
Esse jovem sempre viu o avô como o seu grande ídolo, pelo que desde novo foi decisivamente influenciado pelos ensinamentos que o avô lhe foi dando, assumindo a defesa de valores para os quais o seu velho mestre sempre se esforçou: o respeito, o esforço, a dedicação e a verdade... Assim, com o passar dos anos, o jovem rapaz foi moldando a sua maneira de ser, sem nunca esquecer os conselhos que o seu avô lhe prestou.
Agora que o seu avô deixou o mundo dos vivos, o jovem sabe o que seu velho mestre estará para sempre presente junto de si, em lembranças e recordações de momentos maravilhosos por ambos vividos e, inclusivamente, nas formas de pensar e estar na vida assumidas por esse rapaz, qual fã que segue os passos do seu ídolo.
Esta história é verídica. O rapaz sou eu e o velho mestre o meu avô. Jamais te esquecerei, querido avô...

segunda-feira, outubro 10, 2005

Autárquicas 2005: uma breve reflexão

Os resultados destas eleições autárquicas evidenciam, em primeiro lugar, que a maioria dos portugueses estão satisfeitos com o trabalho desenvolvido pelos "seus" autarcas, apesar de tudo o que se diz e se sabe sobre o endividamento de muitos municípios e as ligações perigosas que alguns autarcas parecem ter com o lobbie da construção civil...
Por outro lado, não admitir que o PSD e a sua liderança saem reforçados destas eleições é não querer admitir que a estratégia levada a cabo por Marques Mendes deu excelentes resultados, da qual a derrota em Faro constitui a excepção que confirma a regra. Depois, há que aceitar os factos: o PS, nas pessoas de Jorge Coelho e José Sócrates, saem amplamente derrotados, visto que os candidatos por eles apoiados a cidades tão importantes como Lisboa, Porto, Sintra, Coimbra ou Gaia tiveram resultados aquém dos esperados, alguns dos quais vergonhosos. Outros derrotados que deveriam aprender a lição e afastar-se de vez da política foram Carrilho e Soares (pai e filho).
Quanto à questão que se tem levantado sobre se o Governo deve tirar ilações desta derrota socialista, penso que tal não se deve colocar. Os portugueses sabem distinguir os actos eleitorais e não acredito que alguém fosse votar num candidato do PSD, da CDU ou de outro partido apenas para penalizar o Governo. Agora que Sócrates sai fragilizado, enquanto líder do partido que apoia o Governo, disso não restam dúvidas.
E o que dizer do trio de independentes de que tanto se fala? Penso que os eleitores desses três concelhos avaliaram de forma positiva a acção desenvolvida nos respectivos municípios por Valentim, Fátima e Isaltino, ignorando a falta de ética que estes demonstraram. Mas, fica claro que ainda há que legislar muito para que algum caciquismo seja derrubado a nível autárquico e para que a ética política seja valorizada para bem de todos nós. Aliás, a postura de Valentim na hora de cantar vitória demonstra bem que há quem tenha muito medo de perder o poder. Porque será?
Seguem-se as presidenciais...

sábado, outubro 08, 2005

Por um final de vida com dignidade...

Hoje, 8 de Outubro, comemorou-se o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos. Tal como em muitas outras ocasiões, hoje falou-se um pouco sobre este fenómeno nos noticiários televisivos e jornais, para depois se passar mais um ano no silêncio e esquecimento. Até é provável que muita gente desconheça o significado de "cuidados paliativos" e nem sequer se dê ao trabalho de reflectir sobre este novo desafio com que as sociedades desenvolvidas se confrontam...
É que com o aumento da esperança média de vida e o reforço da medicação tem vindo a aumentar o número de pessoas que têm um final de vida cheio de sofrimento, numa espécie de morte degenerativa. Com uma população cada vez mais envelhecida e, muitas vezes, esquecida e abandonada pelos mais novos (até pelos próprios filhos!) cabe ao Estado, na sua vertente social, prestar o apoio efectivo e qualificado aos que são confrontados com doenças prolongadas e incuráveis. Portugal apenas possui sete hospitais preparados para cuidar destes doentes, pelo que, num País onde o envelhecimento é cada vez mais notório, urge apostar na criação de estruturas e na formação de profissionais especializados a este nível.
Sei do que falo, visto que tenho assistido, de há dois anos a esta parte, ao sofrimento que tem tomado conta do meu avô e que tem sido, dentro do possível, minimizado pela acção que tem sido desenvolvida pelos excelentes profissionais do Serviço de Medicina Paliativa do Hospital do Fundão.
Ninguém sabe o dia de amanhã, mas não desejo a ninguém o final de vida que tem tomado conta do meu avô. Apesar do sofrimento que o aflige, ele tem a sorte de ter uma família que o tem apoiado continuamente e a excelência de um serviço hospitalar especializado nos cuidados paliativos. Mas, pensemos nos milhares de idosos que são simplesmente abandonados às portas da morte! E, não me venham com a conversa da eutanásia...
Aqui deixo o meu sincero agradecimento a todos os profissionais (médicos, enfermeiros e auxiliares) que dão do seu melhor em benefício daqueles que têm o azar de ter um final de vida em sofrimento. E, ao meu querido avô, que "espera" agora que Deus o chame, o meu muito obrigado por todos os ensinamentos de vida que me deu e moldaram, em muito, a minha personalidade.

terça-feira, outubro 04, 2005

Que dizer das eleições do próximo domingo?

A poucos dias de mais um acto eleitoral, não acredito que ainda haja eleitores que não sabem em quem irão votar. O mesmo não direi em relação aos que, de tão desiludidos que estão com os políticos, ainda não sabem se irão dar-se ao "trabalho" de votar...
Depois de semanas onde se gastaram "rios" de dinheiro, com propaganda aberrante, sem grande utilidade e, em alguns casos, de muito mau gosto, é tempo de cada munícipe participar na escolha do seu "governo" local. De facto, no próximo domingo deve-se votar apenas com o propósito de escolher o melhor candidato a Presidente de Câmara, independentemente do seu partido ou ideologia política. Dou o exemplo da cidade de onde sou natural: a Covilhã, cidade outrora operária, conhecida como a "Manchester Portuguesa" e de forte tendência de esquerda (nas últimas legislativas o covilhanense Sócrates registou mais de 60% dos votos locais), tem à frente do município um homem do PSD, mas que tem tido o apoio dos covilhanenses, por via do excelente trabalho que o mesmo tem vindo a desenvolver em prol do concelho. Isto só prova que votar contra ou a favor da acção do Governo em eleições autárquicas não faz qualquer tipo de sentido.
Por outro lado, o eleitorado tende a criar certos laços de cumplicidade com o Presidente de Câmara, quando este aposta num estilo de populismo ou até bairrismo desenfreado contra os ventos de mudança. Assim, se explica que candidatos suspeitos de crimes de corrupção, mas detentores de simpatia popular, como Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro, Isaltino Morais ou Ferreira Torres, tenham grandes hipóteses de ganhar no próximo domingo.
Nas grandes cidades, mais do que os programas eleitorais, é o perfil dos candidatos que decide quem tem mais hipóteses de vencer. Ora, se em Lisboa a vitória de Carmona poderá ter origem na rejeição do estilo de Carrilho, já no caso do Porto, poderá ser o estilo independente e rigoroso, mas também afável e simpático de Rui Rio a dar-lhe o segundo mandato consecutivo.
Confundir eleições autárquicas com maior ou menor descontentamento pelo desempenho de Sócrates parece-me um disparate. Mas, o que é mais grave é ver que alguns portugueses não se importam de depositar confiança em candidatos que simplesmente não deveriam poder apresentar-se a eleições democráticas...