sábado, dezembro 16, 2006

A propósito do referendo (2)

Proponho ao leitor um pequeno exercício de imaginação. Imagine-se um aluno a ditar regras de disciplina a um professor. Imagine-se a equipa do Benfica a fazer a sua apresentação aos sócios no Estádio do Sporting. Imagine-se alguém afirmar que a Coreia do Norte é um país apologista da liberdade de expressão. Imagine-se um polícia a roubar um transeunte. E, agora, imagine-se uma organização que defende a liberalização do aborto até às 10 semanas a apresentar as suas propostas numa maternidade pública!!! Pois bem, não tem de imaginar esta última hipótese, pois aconteceu no nosso país!!!
Como é possível que numa maternidade (estabelecimento que tem como prioridade a defesa da vida) se possa fazer a apologia da morte??? Há gente com muitas responsabilidades que anda a brincar com questões muito sérias, ainda para mais quando se trata de uma instituição pública que tem como dever prioritário a defesa da vida!!!

4 comentários:

Anónimo disse...

Muita hipócrisia reina por aí acerca deste tema!
Da maneira como os defensores do "não" apresentam a coisa, até parece que as mulheres portuguesas, a partir do momento em que a lei estiver aprovada (se estiver), em vez de irem tomar café, vão fazer um aborto!

José Manuel Dias disse...

Existem boas razões para defender o Não e para defender o Sim. É sempre uma posição do foro íntimo. Curioso é, no entanto, observar que os países culturalmente mais avançados despenalizaram a interrupção voluntária da gravidez e estudos comprovam que nessas situações os abortos ( oficiais e clandestinos) diminuiram.
Um abraço

contradicoes disse...

Venho agradecer o comentário e desejar igualmente as rápidas melhoras da sua filha. E já agora aproveito o ensejo para lhe desejar a si e toda a família um Natal com muita serenidade. Um abraço do Raul

Paulo disse...

Este tema pelas diversas razões é-me muito "particular"...
Já escrevi na Blogosfera sobre isto mas queria aqui deixar mais uma vez a minha opinião e não só...
É importante antes de mais nada que eu defina a minha posição...
1º Sou a favor do aborto quando por escolha do casal/mulher e não ponha em causa a vida de NENHUM Ser Humano...
2º Sei que não existe Ser Humano no Ovo, nem no embrião durante os primeiros tempos de vida...
3º Nunca foi feito nenhum estudo para definir onde começa a haver vida de um Ser Humano, no embrião/feto...
4º Sou contra a vinda para a opinião publica da questão do aborto, porque vejo isso como a passagem da batata quente para os outros, muitos dos quais não têm os "conhecimentos" mínimos para poderem decidir em consciência sobre tal problemática...
5º Acho que se faz uma enorme confusão entre vida humana e Ser Humano, que embora à partida pareça a mesma coisa na realidade não o é... Vida humana existe nos espermatozóides, no ovócito, no óvulo, no ovo, no embrião, no feto, no bebé, na criança, no adolescente, no jovem, no adulto, no idoso... Mas todos devem concordar que nem tudo o que referi corresponde a um Ser Humano...
6º À luz dos conhecimentos actuais, quer os que estão contra quer os quês estão a favor do aborto têm razão... Definindo-se onde começa o Ser Humano ambos perdem de certeza parcialmente a razão...
7º Ao contrário do que se tenta passar para a opinião publica, não está em causa nenhuma despenalização (que se por acaso, na margem que propõe, puser em causa a vida de um Ser Humano é à partida a despenalização de um crime, vulgo homicídio) mas o que está em causa é uma liberalização, senão reparem na atitude do ministro da saúde, a ver se as nossas instituições de saúde têm condições para atender a possível procura dos interessados para abortar...
8º Mete-me nojo tanto o discurso do vão de escada como o das mulheres criminosas... Não passa tudo de uma brutal hipocrisia...
Etc....
Posto isto vamos lá...
Compreende-se que quando o Casal ou individuo recorre ao Aborto, fá-lo a maioria das vezes porque sente que não podem(e) ter (ou não querem) esse filho. De qualquer modo...
Não aceito a pergunta de grande peso sexista e de valor altamente femininista, num estado de direito onde todos os cidadãos independentemente do seu sexo devem ter os mesmos direitos. Mais ainda, quando na nossa constituição estão reconhecidos os direitos iguais entre mulheres e homens. Não vamos agora começar a tirar direito aos homens, quando depois da criança nascida lhes exigimos (e Correctamente) responsabilidades. Sei que ninguém mais que a mulher tem direito ao seu próprio corpo, bem como é no corpo de uma mulher que se desenvolve uma novo ou futuro Ser Humano (algo que faz parte da nossa natureza animal e que não pode ser alterada). Mas, essa nova vida é de exclusivo direito e responsabilidade dessa mulher? Como se coloca a responsabilidade de o por fim à vida de um “filho” exclusivamente nas mãos das mulheres, como está na pergunta que se pretende levar a referendo. E, se por acaso essas mesmas mulheres decidem levar a gravidez à frente, exigem-se responsabilidades aos pais dessas crianças, sobre as quais nada tiveram a dizer quanto à continuação da gestação/vida desse mesmo “filho” numa fase inicial. Ou seja se devia continuar ou não a gravidez? Só porque segundo a natureza Humana o desenvolvimento de um novo ou futuro Ser Humano se dá dentro do corpo de uma mulher? Compreenderia isso sem problemas se o homem em causa se tivesse desresponsabilizado das suas obrigações. Mas isto não acontece sempre...
Quanto ao problema em causa que é o Aborto ser ou não um direito. Quanto ao que está na actual lei nada tenho a dizer e bem pelo contrario estou plenamente de acordo com o que lá se define. Quanto ao direito de Abortar fora das actuais restrições impostas pela lei, apraz-me dizer o seguinte: Não é preciso nenhum referendo, nem de por o peso desta decisão sobre os ombros dos cidadãos. Não como diz o Partido Comunista Português só porque há uma maioria de esquerda no Parlamento Português, porque não estamos a falar de “feijões” mas sim de algo mais importante que pode e tem a ver com Direitos Humanos. Mas sim porque com um estudo sério, bem conduzido e com isenção, sem o peso de extremismos partidários, religiosos, etc., se pode chegar sem problemas a uma conclusão mais que viável e justa.
O correcto era que se arranje uma equipa de cientistas a fim de definir onde começa a vida de um Ser Humana. Pois basta ter um pouco de conhecimentos científicos para se saber que não é logo na concepção que começa a existir o Ser Humano, (pois não podemos chamar a uma “bola” de células de Ser Humano), tendo ainda em conta que esse embrião está de tal modo ainda indefinido, que muitas vezes não sabemos se dali vai resultar uma ou duas vidas (caso por exemplo dos gémeos homozigóticos, por isso nos primeiros tempos ainda não há nada definido). Mas possivelmente também não é tão tarde como alguns pensam. Isso já não sei... Por isso essa equipe devia fazer um estudo profundo a fim de se “definir” onde começa a existir um Ser Humana. E aí nada mais a fazer... Um Ser Humano não tem mais direito à vida que outro, muito menos sobre a vida dos outros Seres Humanos, (a Vida é um dos primeiros, senão mesmo o primeiro Direito Humano), pese embora ser um Ser portador de outro dentro do seu corpo, condição natural que não pode ser mudada.
Feito isto, não há mais que promulgar uma lei que permita sem problemas que se faça o Aborto até o tempo determinado para o que se considera o início da existência de um Ser Humana. Podendo neste caso a decisão ser exclusiva da mulher que é dona do seu corpo e não está a afectar nenhum Ser Humano.
Algo em que como é obvio deve haver um maior investimento por parte do governo é numa melhoria da Educação Sexual e que esta chegue obrigatoriamente a todos. Porque se havia altura em que esta problemática tinha razão de se por, isso foi no passado quando havia uma grande falta de informação e ausência ou desconhecimento de métodos anticoncepcionais e as nossas “avós” lá engravidavam de mais um e depois lá vinham as complicações para criar mais um, etc.. Actualmente com a disponibilidade de informação e dos meios, as justificações são cada vez menores para se chegar a vias extremas. E se as pessoas tiverem conhecimento de que podem devido a um acto mal precavido estar grávidas recorrerão ATEMPADAMENTE e dentro do Prazo Legal a local de saúde próprio para resolver o problema da melhor maneira possível. Se esse tipo de “operação” deve ser comparticipada pelo estado ou paga pelos “distraídos” isso nem tenho dúvidas... Deve ser pago pelo(s) próprio(s) interessado(s)... O dinheiro do erário publico tem algo onde ser mais bem aplicado...
Agora algo que não podemos como sociedade de direito que somos, é substituir o infanticídio, praticado como “método de planeamento familiar”, até aos dois anos de idade que era feito legalmente no antigo Império Romano, por um infanticídio praticado dentro do útero materno só porque este “Ser” está fora do nosso campo de visão. Nem é lógico e justo pedir-se a um povo para decidir sobre a vida ou não vida de outros possíveis Seres Humanos. Defina-se onde se começa a ser um Ser Humano; desse-lhe o direito que ele tem e desse à mulher o direito que ela tem de decidir Atempadamente se quer ou não ser mãe.
Como pessoa consciente não entro em fanatismos de “Sou a Favor” ou “Sou Contra” só porque me apetece ou só porque só vejo os direitos de umas das partes, mas não me atrevo a decidir sobre o Direito à Vida ou Não Vida dos outros Seres Humanos (pois não sei a partir de que período pode começar a ser considerado como tal), nem de decidir quanto ao direito que uma mulher tem de escolher se quer ser ou não mãe.
Como estado laico que somos, tenha-se a coragem de não enviar as responsabilidades para cima dos outros, seja-se verdadeiramente pioneiro (como já fomos noutras coisas em tempos) e requisite-se a quem de direito e com conhecimentos científicos para tal, um estudo que defina a partir de que altura se passa a ser considerado Ser Humano, e, posto isto legisle-se apenas, atribuindo os direitos que têm os Seres Humanos não nascidos e às mulheres o direito de escolherem ser ou não mães Atempadamente.
Cumprimentos e Bom Ano Novo para todos...
Abraço para o Pedro,
Paulo