quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Outra vez a natalidade...


Foram já tantas as vezes que aqui escrevi sobre este assunto que já lhes perdi a conta. E é também um tema que os políticos gostam de abordar cada vez que se apresentam a eleições, seja a nível concelhio, seja a nível nacional.
Pois bem, esperemos que não venha aí mais uma ideia disparatada do tipo socrático (o cheque bébé) que nem chegou a sair do papel e que se perspectivava ser um fiasco, apenas aproveitada pelas famílias que já têm muitos filhos, precisamente as de menores recursos financeiros.
Ora, interessa que o Governo de Passos Coelho perceba algo que já há muitos anos é conhecido dos entendidos deste assunto: mais do que conceder subsídios (que muitas vezes apenas são aproveitados pelos mais pobres - que já de si têm muitos filhos), interessa criar condições a nível laboral para que as famílias da classe média tenham mais do que um filho. Sim porque quem opta por não ter filhos não vai mudar de ideia apenas porque pode ter maiores facilidades no horário de trabalho ou um acrescento no seu rendimento mensal. O que importa é convencer aqueles casais que já têm um filho a terem mais um e, muitas vezes, essa opção apenas pode estar dependente do reforço do trabalho a tempo parcial ou da adopção de um política fiscal que discrimine, de forma positiva, as famílias que têm filhos.
É importante que se facilitem as condições de trabalho para quem tem filhos sem que se percam regalias, ao mesmo tempo que o IRS deve ser muito mais discricionário ao nível do número de filhos que compõem o agregado familiar. Mas claro que para fomentar o trabalho a tempo parcial é necessário que se reduza a taxa de desemprego, reforçando o crescimento económico. E para isso é necessário que, ao contrário do que aconteceu durante muitos anos em que o investimento público se direccionou, em grande parte para as obras públicas, se comece a investir naquilo que é realmente importante: a indústria, o turismo, a agricultura, os serviços sociais...
Já passaram quase três anos desde que chegou a troika. Sabemos que a austeridade foi fatal para as famílias e a economia nacional. A outra opção era a bancarrota. Agora é tempo de devolver o país aos portugueses. E não querendo dividir os portugueses entre aqueles que têm filhos e os que não os têm (por opção) é chegada a hora de combater um problema que toca a todos: o envelhecimento populacional. E este só se combate com o aumento da natalidade, por forma a contrariar o índice de envelhecimento populacional. E isto se ainda quisermos que daqui a uns anos haja Estado Social e Segurança Social. 

sábado, fevereiro 08, 2014

Sobre a polémica dos quadros de Miró...

Nas últimas duas semanas muito se tem falado sobre a venda ou a preservação em Portugal dos quadros de Miró. Muitos têm sido os comentários acerca de uma hipotética dicotomia entre a esquerda e a direita relativamente à política cultural. Outros apelidam esta dicotomia numa perspectiva de maior ou menor pragmatismo sobre um assunto que poderia muito bem ter passado por um não-assunto.
Mas já que tem-se escrito tanto sobre o que fazer aos quadros de Miró, aqui vai a minha opinião. Sintetizo-a em meia dúzia de pontos:
1. Miró não foi português, pelo que enquadrar os seus quadros numa espécie de acervo cultural nacional a preservar parece-me um notório excesso;
2. Miró nem sequer teve grandes ligações a Portugal: natural de Espanha, andou pela França e pelos EUA, mas não pousou por cá, nem sequer se inspirou na cultura portuguesa para pintar um quadro que fosse;
3. Tendo sido património de um banco privado que depois foi nacionalizado e, tendo em conta que o referido banco ficou cheio de dívidas ao Estado, não me incomoda nada que os quadros de Miró sejam leiloados por forma a compensar o Estado dos prejuízos que este teve com a referida instituição bancária;
4. Afirmar-se que com os quadros de Miró em Portugal teríamos mais turismo cultural parece-me um claro atentado a todo o vastíssimo património cultural que Portugal possui e que, este sim, deve ser preservado, recuperado e potencializado. E tanto que há por preservar e divulgar em Portugal;
5. Fazer tanto barulho acerca da preservação em Portugal de quadros de um pintor (que, convenhamos nem é assim tão conhecido a nível mundial - não se compara a um Picasso, a um Van Gogh ou a um da Vinci) espanhol que nada teve que ver com Portugal deve dar vontade de rir aos espanhóis, o que em nada abona a nosso favor;
6. Finalmente, quem estiver assim tão preocupado em fazer crescer o turismo cultural ligado ao mundo da pintura, então tem muito que fazer: bastará investir na preservação e divulgação de pintores portugueses tão prestigiados como Grão Vasco, Júlio Pomar, Júlio Resende, Mário Cesariny, Nadir Afonso, Paula Rego, Vieira da Silva e muitos mais...
Conclusão: por mim podem vender à vontade os quadros de Miró que não fazem cá falta nenhuma...